QUITUTES DA VOVÓ
Hoje vou homenagear a grande inspiradora dessa pagina, que registra a memória culinária de minha avó Tide.
Contar como era a vida no casarão.
A CASA DA MINHA AVÓ
Avó,
Avô,
Maninha,
Maria.
Lembranças de uma feliz criança.
Brinquedos na rua,
Cantigas de roda,
Castelos de areia,
Pés descalços,
Gostosa coceirinha de bicho de pé,
Banho gostoso, numa banheira de
quatro pés,
Sono na rede,
Contos de fada,
Noite escura, com medo da Tiaquitira,
que vivia no vão do telhado.
Noite de estrela, que iluminava o céu
e a casa.
A casa de minha avó tinha vida.
Linda, minha avó, sentada numa
cadeira de balanço, perto do rádio, ouvindo novela e fazendo crochê.
Meu avô, sentado na cabeceira da
grande mesa, como um maestro de orquestra, controlava o barulho dos talheres na
hora das refeições.
Maninha, que de maninha não tinha
nada, era minha tia avó, toda meiga. Tinha sempre uma flor cheirosa atrás da
orelha. Ao me abraçar com carinho me pedia um cheirinho.
Maria, a pequena e ótima cozinheira, companheira
nas idas ao circo de Chique – Chique, onde me encantava com o equilibrista na
corda bamba.
A casa de minha avó tinha gosto de
frutas, aquelas que se come no pé.
Pé de cambucá,
Pé de sapoti,
Pé de goiaba,
Pé de amora,
Pé de jambo,
Pé de pitanga,
Pé de mamão,
Pé de maracujá.
A casa de minha avó tinha perfume de flores.
Rosas,
Cravos,
Camélias,
Jasmins,
Dálias,
Margaridas,
Bocas de leão,
Dama da noite, que debruçada no muro
do galinheiro, exalava seu perfume nas noites de lua.
As flores do cipó - São João, tão
graciosas, decoravam os corrimões das grandes escadarias e do coreto coberto
com primaveras vermelhas e recheado de orquídeas, dava para avistar o grande
jardim.
A casa da minha avó tinha cheiro de
tempero.
No camarão,
No caranguejo,
Na tainha,
No barreado, com cheiro de cominho,
servido somente no carnaval
O cheirinho do tempero da comida
simples feita no fogão à lenha pela Maria e por minha avó.
Uh! Aquele bife que só ela sabia
fazer, com um caldinho que se juntava a farinha.
A casa da minha avó tinha gosto de
açúcar.
Ah! Os doces da vovó.
Doce de goiaba,
Doce de abóbora,
Doce de mamão verde,
Doce de coco,
Doce de caju,
Doce de banana,
Uh! Uma goiabada feita no tacho de
cobre comprado dos ciganos.
Uh! Aquele Romeu e Julieta, goiabada
da vó com queijo importado, que vinha embalado numa lata.
Uh! E os doces de festa, de dias
especiais.
Manjar de coco,
Ovos nevados,
Quindins,
Ambrosia,
Espera-marido,
Lambiscos.
Nada era proibido comer, porque a única criança da casa era um palito.
A casa da minha vó cheirava café, coado em saco de pelúcia e servido bem de manhãzinha, ao som do canto do galo.
Às 15 horas,
como era costume, era servido o chá, com aquele pão d’água, que só se faz em Paranaguá, com
manteiga de lata. Pipoca de polvilho, bolos, bolachas, broinhas, sequilhos,
cavacos, pães feitos em casa, servidos para visitas.
Na casa da minha avó existia felicidade.
Vó, tia vó, bisa.
Férias,
Sol,
Calor,
Amor.
A casa da minha vó não é a mesma.
Só lembranças.
Um casarão tombado.
Um sonho de criança.
" É o que digo! As árvores como duram! A casas como duram! só nós a endemoniadas mulheres como qualquer coisa viramos pó".
Yerma - Garcia Lorca.
Não poderia deixar de registrar hoje quitutes do dia a dia.
PÃO DA VOVÓ
1 colher de açúcar
1 colher de fermento para pão bem cheia
2 colheres de farinha de trigo cheia
1 colher de banha ou manteiga cheia
3 ou 2 ovos
sal ao gosto
Desmanchar em água morna e deixar
crescer o fermento.
Depois mistura a farinha de trigo, a banha ou manteiga. os ovos e o sal.
Amassar bem, divide a massa e deixa crescer.
Coloca em forma rasa e forno quente.
BOLO SIMPLES DA VOVÓ
250 gramas de manteiga
4 xícaras de açúcar
4 ovos
2 xícaras de leite
5 xícaras de farinha de trigo
2 colheres de fermento
Bate-se a manteiga com o açúcar e coloca-se as gemas. Coloca-se depois o leite alternando com os ingredientes secos e por ultimo as claras batidas em neve. Coloca-se em forma untada e forno pré aquecido.